Queimaduras: gerenciamento da dor e impacto na qualidade de vida

gerenciamento da dor

Você sabe qual é a relevância do gerenciamento da dor durante os cuidados com queimaduras? Confira o texto para entender mais sobre o tema, bem como sobre os impactos desse tipo de lesão na qualidade de vida das vítimas.

O que é a dor?

Você sabe o que é a dor? De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP), a dor pode ser definida como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada a uma lesão tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal lesão”². Essa definição, revisada por especialistas no ano de 2020, evidencia que o nível de dor não é, necessariamente, proporcional à quantidade de tecido lesado, e existem diversos outros fatores que podem aumentar a percepção dessa sensação, como:¹

  • Medo;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Raiva;
  • Cansaço/fadiga;
  • Sentimentos de desesperança.

Considerando isso, uma frase muito famosa quando nos referimos a esse assunto é “dor é sempre subjetiva e pessoal”¹. Nesse sentido, lidar com ela durante a assistência de pacientes queimados representa um grande desafio para profissionais de saúde.

A dor e a equipe multidisciplinar

Ter conhecimento técnico e prático é essencial para que um profissional de saúde possa prestar cuidados a pacientes queimados. Mas, além disso, é necessário também que os responsáveis pelo cuidado do paciente possuam ciência de que esse tipo de lesão traz à tona questões dolorosas e, portanto, subjetivas.

De forma geral, o gerenciamento da dor é uma experiência comum nas instituições de saúde, contudo, isso não significa que ela não afete negativamente a qualidade de vida, tanto dos pacientes, quanto dos profissionais. Além disso, como apontado anteriormente, ela é subjetiva, portanto, é fundamental que o profissional tenha isso em mente para que consiga lidar, de forma empática, com a dor do outro e, além disso, não se esquecer de que os procedimentos realizados podem aumentar o sofrimento do paciente.³

Sendo assim, lidar com a dor de um paciente não está restrito a aplicar medidas terapêuticas que a diminuam, mas engloba também questões como empatia, compaixão e sensibilidade, além do reconhecimento da relevância de aliviá-la, confortar o paciente e, dessa forma, “torná-lo satisfeito com o seu viver”.³

Considerando todas essas informações, fica claro que os cuidados com queimaduras também podem representar um possível fator de estresse para os profissionais de saúde, devido a toda a complexidade envolvida em lidar com pacientes com altos níveis de dor.

O gerenciamento da dor e as queimaduras

De acordo com a literatura, as queimaduras podem ser extremamente dolorosas, aumentando as apreensões, traumas e desconfortos de pacientes queimados. Portanto, devido a sua presença e impacto, a dor é considerada o quinto sinal vital durante as avaliações e intervenções feitas em lesões decorrentes de queimaduras.³

Apesar da relevância desse fator e de terem sido implementadas normas para a avaliação da dor mediante o uso de instrumentos e, também, quanto à aplicação de tratamento farmacológico e não farmacológico, a dor ainda não é vista como uma prioridade durante o atendimento à pacientes queimados, deixando de ser devidamente documentada e tratada em decorrência da passividade dos profissionais de saúde frente ao problema.³

Avaliação da dor no paciente queimado

Em decorrência da dor, o paciente queimado poderá experienciar taquicardia, hipertensão e desconforto respiratório, entre outros sintomas. Para minimizar esse problema, é preciso que o manejo da dor seja feito corretamente.⁴

Primeiramente, é necessário avaliar, de acordo com a ferramenta utilizada pela instituição, o nível de dor do queimado, ou seja, o seu Quadro Álgico, para estabelecer a analgesia correta. Nesse sentido, aplicar curativos que sejam gentis para a pele, também contribui grandemente para evitar o aumento da dor.⁴

Assim, as medidas não farmacológicas também são essenciais. Nessa esfera, também entra, como citado, a escolha de curativos adequados, que não sejam aderentes e evitem traumas durante as trocas, e possuam capacidade de realizar a manutenção do exsudato, mantendo o equilíbrio do meio úmido da ferida.⁴

Por fim, é preciso ressaltar a importância da comunicação entre os profissionais de enfermagem e o paciente para um tratamento bem-sucedido e menos traumático. É recomendado que o enfermeiro acredite na queixa verbal do queimado, adotando as medidas possíveis para minimizar seus desconfortos.³

Qualidade de vida do paciente queimado

Um estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em um Centro de Tratamento de Queimaduras (CTQ) de um hospital público de referência no atendimento a vítimas de queimaduras no Estado do Ceará, identificou algumas particularidades quanto à dor da queimadura.⁵

De acordo com os relatos da equipe entrevistada, é possível verificar que existe uma grande influência de aspectos psicossociais e afetivos que envolvem a queimadura. Uma das entrevistadas afirmou: “na queimadura, a dor se intensifica devido a repercussões sociais e psicológicas consequentes da interrupção da sua atividade laboral.”⁵

Sobre o mesmo assunto, outra profissional disse: ““A dor da queimadura é diferente por conta da estética […] mesmo depois de ele receber alta, não está mais com a dor física, mas sente a dor psicológica de lembrar o trauma, a rejeição.”⁵

Considerando os relatos e informações citadas, fica claro a extensão do impacto das feridas na qualidade de vida de uma vítima de queimaduras, visto que, além das dores físicas, existem também as emocionais, decorrentes da mudança corporal externa que acaba, invariavelmente, sendo refletida internamente.

Portanto, é papel de todos os integrantes de uma equipe multidisciplinar oferecer os cuidados mais gentis possíveis, que abranjam as dores físicas, ao mesmo tempo que são sensíveis às dores emocionais do paciente queimado.

Ref.:

Cuidados Paliativos Oncológicos: Controle da Dor – Instituto Nacional de Câncer: Ministério da Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/inca/manual_dor.pdf¹

Associação Internacional para o Estudo da Dor. Disponível em: https://sbed.org.br/2020/08/03/associacao-internacional-para-o-estudo-da-dor/²

Participação da equipe de enfermagem na assistência à dor do paciente queimado – Revista Dor: Pesquisa, Clínica e Terapêutica. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rdor/a/wxHtTgxNr6yRhsYwdMYJvtc/?lang=pt³

Protocolo de cuidados de enfermagem ao paciente queimado na emergência: Revisão integrativa da literatura – Revista Brasileira de Queimaduras. Disponível em: http://www.rbqueimaduras.com.br/details/458/pt-BR⁴

A dor da queimadura e suas singularidades: percepções de enfermeiras assistenciais – Revista Brasileira de Queimaduras. Disponível em: http://www.rbqueimaduras.com.br/details/463/pt-BR/a-dor-da-queimadura-e-suas-singularidades–percepcoes-de-enfermeiras-assistenciais⁵

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