Avaliação de Feridas

Quais são as prioridades na avaliação de feridas?

Para escolher qual é a melhor conduta de tratamento para uma ferida, é fundamental levar em consideração as suas características. São inúmeros fatores que precisam ser avaliados, contudo, existem 4 critérios principais que são considerados prioridades na hora de analisar uma lesão: a condição do leito e tipo de tecido, as principais alterações na borda da ferida, a consistência e quantidade de exsudato presente e, por fim, a presença de sinais de infecção e biofilme

Neste artigo, vamos explicar cada um desses critérios e como identificá-los para avaliar as feridas de maneira mais precisa, monitorar a sua evolução, otimizar o tratamento e aprimorar a recuperação do paciente. Continue lendo e confira!

A condição do leito e o tipo de tecido presente

O leito da ferida é o ambiente delimitado pela borda onde ocorre o reparo tecidual. Por isso, determinar o tipo de tecido que está presente, que pode ser viável ou inviável, é fundamental para orientar a conduta terapêutica e planejar as intervenções necessárias. Enquanto a presença de tecido viável indica um ambiente propício para a cicatrização, a identificação de tecidos inviáveis significa que são necessárias medidas, como o desbridamento, para eliminá-los e promover a evolução da lesão.

Quais são os tipos de tecido viável?

O tecido viável é reconhecido por favorecer o reparo da pele e a cicatrização da lesão. Ele possui as condições ideais para o desenvolvimento de um tecido de granulação saudável; é bem vascularizado, não possui excesso de exsudato, carga bacteriana elevada e nem edema.² Tecidos viáveis podem ser classificados em 2 tipos principais:

  • Tecido de Granulação:

Serve de base para a regeneração da pele, fornecendo uma estrutura para a proliferação de células epiteliais. Entre suas principais características está a formação de pequenos vasos sanguíneos e a multiplicação de fibroblastos, que produzem o colágeno que irá fortalecer a pele.

Vale ressaltar que o tecido de granulação saudável apresentará as seguintes características: coloração rosada/vermelha viva, úmido e aspecto granuloso; já o não saudável será: descorado, vermelho escuro, friável (ou seja, que sangra com facilidade), ou quando apresenta isquemia ou infecção local.³

  • Tecido Epitelial:

Altamente vascularizado, esse tecido geralmente ocorre na fase proliferativa e suas características incluem: cor rosa-claro brilhante, pele fina e presença de células epiteliais que proliferam das bordas para o centro.³

Quais são os tipos de tecido inviável?

Esse tipo de tecido, também chamado de “deficiente”, provoca um atraso na cicatrização. Além de prolongar a resposta inflamatória e criar uma barreira para a formação do tecido de granulação e epitelização, ele também proporciona um meio favorável para o crescimento de microrganismos nocivos e para a formação de biofilmes, que são altamente resistentes aos tratamentos antimicrobianos.¹ Tecidos inviáveis podem ser classificados em 2 tipos principais:

  • Escara

Também conhecido como “necrose de coagulação”, se trata de um tecido morto e inviável, no qual as células se convertem em uma placa opaca de coloração negra ou marrom. ​³

Comum em processos isquêmicos, como os causados por pressão contínua e ressecamento, a escara amplia a inflamação, favorece a proliferação microbiana e impede a cicatrização. Geralmente, é formada a partir da separação de um tecido previamente viável de seu suprimento sanguíneo, o que o torna seco, duro e firmemente aderido.³

  • Esfacelo

Esse tipo de tecido é úmido e não vascularizado. Ele é um material bem hidratado, de consistência mucoide, que pode ser branco, amarelo, marrom acastanhado ou verde, e estar solto ou aderido.³

Devido a falta de irrigação sanguínea adequada, o esfacelo dificulta a regeneração celular e a formação de tecido de granulação, além de interferir na limpeza e favorecer a proliferação de microrganismos nocivos.

Principais alterações na borda da ferida

Garantir bordas viáveis é imprescindível para a cicatrização, visto que elas favorecem tanto a epitelização quanto a contração da lesão. Em bordas saudáveis, os queratinócitos – células epiteliais, responsáveis pela produção de queratina -, podem migrar para cobrir o leito da ferida, e a contração dos tecidos auxilia na diminuição do tamanho da lesão. 

Por outro lado, alterações nas bordas comprometem esses processos, prejudicando a reparação tecidual e, consequentemente, o resultado do tratamento. Conheça a seguir os 4 tipos principais de alterações que podem acontecer nas bordas de uma ferida:

  • Maceração

Se trata do processo de amolecimento e deterioração do tecido nas bordas e pele perilesional. Acontece devido ao excesso de umidade, impactando negativamente a cicatrização.³

  • Hiperqueratose:

É o espessamento anormal da camada externa da pele, causado pela proliferação excessiva de células produtoras de queratina. Pode ocorrer em decorrência da falta de limpeza adequada da pele em pontos de pressão ou nas bordas da ferida, e prejudica a migração celular.³

  • Descolamento:

É o termo usado quando as bordas não estão aderidas ao leito, indicando insuficiência tecidual de base. Além de comprometer a continuidade da cicatrização, também pode propiciar a tunelização.³

  • Epíbole:

Também conhecida como “borda enrolada”, essa alteração é caracterizada pela migração excessiva de células de epitelização, que causam um crescimento excessivo que faz com que a borda enrole sobre si, interrompendo a cicatrização.³

Consistência e quantidade de exsudato presente

O exsudato é derivado do líquido intersticial encontrado nos espaços entre as células nos tecidos do corpo. Durante a cicatrização de uma lesão, ele extravasa dos vasos sanguíneos e escoa pela área lesionada com o objetivo de auxiliar no processo cicatricial. Suas funções incluem:³

  • Fornecer um ambiente úmido para a ferida;
  • Auxiliar na migração das células imunológicas, fatores de crescimento e células reparadoras de tecidos;
  • Fornecer nutrientes essenciais para o metabolismo celular;
  • Promover a separação de tecidos mortos ou danificados (autólise). 

Apesar de sua importância, vale lembrar que o exsudato precisa estar presente na quantidade, composição e localização adequada, do contrário, ele pode comprometer a cicatrização. Por isso, é fundamental avaliar a quantidade e considerar cor e consistência para determinar o tipo de exsudato e qual é a conduta terapêutica adequada para lidar com essa substância.³ 

Confira, na tabela a seguir, alguns dos principais tipos de exsudato.

Vale ressaltar, ainda, que entre os tipos de exsudato citados, os que merecem maior atenção são o purulento, o seropurulento e o hemopurulento, que podem indicar a presença de pus, misturado com soro no segundo caso ou com sangue no terceiro caso, sugerindo infecção. Se identificados, esses tipos de exsudato demandam intervenção para controle da infecção.

Presença de infecção

Uma ferida é considerada infectada quando há a presença de microrganismos em número suficiente para causar uma resposta local e/ou sistêmica no paciente. Quando isso acontece, a lesão permanece em estado inflamatório crônico e não evolui para epitelização, ou seja: feridas infectadas não cicatrizam.

Portanto, é fundamental saber reconhecer a infecção e seus sintomas para aplicar intervenções terapêuticas precisas que possam inibir a proliferação de microrganismos nocivos e favorecer a cicatrização adequada.

Sintomas de infecção local:⁴

  • Exsudato aumentado;
  • Cicatrização lenta;
  • Aumento da dor;
  • Aumento do odor;
  • Tecido de granulação friável ou descolorido;
  • Presença de tecido necrótico.

Sintomas de infecção sistêmica:⁴

  • Febre;
  • Mal-estar;
  • Perda de apetite;
  • Confusão e/ou delírio;
  • Letargia ou deterioração geral;
  • Choque séptico.

No caso de infecções locais, é preciso realizar a limpeza adequada da lesão com soluções capazes de quebrar o biofilme e ajudar no controle da carga microbiana, fazer o desbridamento se houver presença de tecidos inviáveis e aplicar curativos antimicrobianos. Já no caso de infecções sistêmicas, além do manejo tópico da lesão, o ideal é solicitar exames microbiológicos para que seja possível prescrever o tratamento antibiótico adequado.Vale lembrar, por fim, que esses são apenas 4 das principais prioridades durante a avaliação de uma lesão. Para que o tratamento adequado seja escolhido, é preciso também considerar condições intrínsecas do paciente, como idade, estado nutricional e presença de comorbidades e condições subjacentes, além de outras características da lesão, como etiologia, tamanho, forma e profundidade.

Referências:
  1. SOBEST (Associação Brasileira de Estomaterapia) – Guia de boas práticas – Preparo do leito da lesão: Desbridamento
  2. Artigo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto – USP (Universidade de São Paulo) – Prevenção e manejo da lesão por pressão
  3. Curso Mölnlycke Advantage – Regenera: Gestão em tratamento, tecnologia e evidências clínicas
  4. Blog Mölnlycke – Feridas Infectadas – como identificar e tratar corretamente?

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