O tratamento de feridas cavitárias é particularmente desafiador para as instituições de saúde e os profissionais que nelas atuam. Isso ocorre devido a diversos fatores, incluindo a falta de uma definição padronizada do que é uma ferida cavitária, a dificuldade em mensurá-las, de identificar sua etiologia e, consequentemente, de adotar cuidados adequados e baseados em evidências.¹
Neste blog, iremos explorar as definições mais aceitas para esse tipo de lesão, as principais dificuldades no tratamento e quais são os cuidados indicados. Continue lendo e descubra!
Sumário
ToggleO que são feridas cavitárias
A ausência de uma definição padronizada para o que são as feridas cavitárias resulta, inclusive, no atraso de pesquisas e materiais consolidados dentro da literatura.
Desde os anos 90, foram feitas diversas tentativas de definir essas lesões. Chaloner e Poole, em 1995, propuseram que feridas cavitárias são aquelas que variam de uma ferida de cavidade relativamente rasa, de menos de 2 centímetros, a feridas com mais de 2 centímetros de profundidade. Já Williams, em 1997, afirmou que as feridas profundas são aquelas que expõem estruturas subjacentes, como fáscia, tendões, músculos e ossos.² Por fim, em uma definição mais recente, Timmons and Cooper, em 2008, descreveram as feridas cavitárias como aquelas que atingem a camada abaixo da derme.³
Deixando de lado a definição técnica, a realidade é que as feridas cavitárias representam um grande desafio clínico, visto que a dificuldade de visualizar a real profundidade e condições da lesão se traduz em um grande obstáculo tanto para o gerenciamento adequado quanto para realizar a documentação da sua evolução.²
Primeiras considerações sobre o tratamento de feridas cavitárias
Assim como acontece no tratamento de feridas não cavitárias, o sucesso do tratamento de feridas cavitárias depende de uma avaliação minuciosa do paciente e de seu histórico médico, das características da ferida e, claro, da identificação e tratamento da etiologia subjacente.⁴
Portanto, quando falamos sobre o tratamento de feridas cavitárias, as melhores práticas e um cuidado baseado em evidências exigem:¹
- O conhecimento das causas e tipos de feridas de cavidade rasa e profunda, assim como a capacidade de reconhecer a natureza oculta dessas lesões e suas diferentes apresentações.¹
- Uma abordagem holística
– Do paciente: incluindo o reconhecimento da etiologia da ferida, comorbidades, condições pré-existentes e de quaisquer fatores que possam prejudicar a cicatrização.¹
– Da ferida: incluindo a avaliação da ferida e da própria cavidade para determinar a localização e dimensão da lesão, tipos de tecido presentes, volume de exsudato, possível presença de sinais de infecção e biofilme, além da condição da pele perilesional.¹
Ademais, é necessário medir e documentar o progresso da cicatrização como parte do tratamento, anotando as principais informações sobre as características da lesão.¹
Por último, mas não menos importante, o uso de curativos adequados para feridas cavitárias, como os de fibra gelificante, e do desbridamento – quando necessário –, também são essenciais para criar um ambiente adequado para a cicatrização. Portanto, consultas regulares são cruciais para identificar possíveis obstáculos ao processo de cicatrização, e a educação contínua do paciente é fundamental para assegurar a aceitação e continuidade do tratamento.⁴
A etiologia de feridas cavitárias
Existem diversos fatores que podem levar ao desenvolvimento de feridas cavitárias, que podem ser classificadas como agudas ou crônicas.
Causas para o desenvolvimento de feridas cavitárias agudas:
Ferida cirúrgica
Decorrente de incisões planejadas, realizadas em ambiente cirúrgico, nas quais o risco de infecção é alto no caso de cicatrização por primeira intenção. Assim, nessa situação, é feito desbridamento, e a ferida é deixada para cicatrizar por segunda intenção.⁴
Deiscência de ferida cirúrgica
Resultado da abertura da incisão cirúrgica antes da sua completa cicatrização. Podem estar relacionadas a: 1. Ferida – sutura excessivamente apertada, edema, falta de irrigação sanguínea na região, infecção; e 2. Paciente – tabagismo, uso de força excessiva no pós-operatório, tratamento com esteroides, imunossupressão e não adesão às recomendações médicas para a recuperação.⁴
Feridas traumáticas
Decorrente de acidentes, quedas e ferimentos causados por arma branca ou de fogo. Essas lesões podem causar a perda de um grande volume de tecido e, por isso, são difíceis de tratar. Muitas vezes, o tecido exposto não é viável, tornando o desbridamento necessário para removê-lo e assegurar um ambiente ideal para a cicatrização.⁴
Causas para o desenvolvimento de feridas cavitárias crônicas:
Úlcera no pé do paciente com diabetes
A neuropatia periférica, uma das consequências da diabetes, causa perda de sensibilidade nas extremidades. Com isso, traumas nos pés podem não ser notados até que tenham se tornado lesões infectadas e de difícil cicatrização.⁴
Lesão por pressão
Essas feridas, causadas por força de pressão e cisalhamento, resultam em isquemia, que causa dano aos tecidos subjacentes. Mais comuns em pacientes acamados ou com pouca mobilidade, em estágios avançados elas podem atingir tendões, fáscia, músculos, ossos e outras estruturas profundas.⁴
Úlceras venosas de perna
A doença venosa crônica causa o aumento da pressão e a diminuição da microperfusão capilar, com isso ocorre uma cascata de consequências que levam ao aumento da pressão venosa, resultando em edema significativo que, eventualmente, evolui para a formação das úlceras venosas.⁴
Independente da etiologia, muitas das feridas cavitárias estão suscetíveis a determinadas complicações durante o processo de cicatrização.
Principais possíveis complicações na cicatrização de feridas cavitárias
No caso de feridas cavitárias, existem 3 pontos que precisam ser observados com atenção:
- A presença de tecido desvitalizado;
- Alto risco de infecção;
- Alto volume de exsudato.
Confira a seguir cada um destes itens em mais detalhes:
1. Presença de tecido desvitalizado
Feridas cavitárias podem conter tecido desvitalizado, como esfacelo ou necrose, o que pode dificultar a avaliação completa da cavidade e a medição precisa do seu tamanho, ocultando a verdadeira extensão da lesão e impedindo o tratamento adequado. Assim, nesse caso, para otimizar a cicatrização, o desbridamento deve ser realizado utilizando a técnica apropriada para remover o tecido desvitalizado.²
2. Alto risco de infecção
Feridas cavitárias apresentam um alto risco de infecção e, por isso, os profissionais devem avaliá-las de maneira proativa para identificar sinais e sintomas precoces.
Os sinais mais comuns de infecção local incluem:
- Aumento da quantidade de exsudato;
- Eritema (vermelhidão);
- Inflamação (inchaço);
- Aumento da temperatura local;
- Odor desagradável;
- Secreção purulenta;
- Retardo na cicatrização;
- Dor na região afetada.
Além disso, algumas feridas podem desenvolver biofilme, que é um grande impeditivo para cicatrização. Nesses casos, não é possível identificar melhora na infecção mesmo com o uso de antimicrobianos tópicos, sendo necessário aplicar medidas para quebrar o biofilme e impedir sua reformação.²
3. Alto volume de exsudato
Feridas cavitárias podem produzir grandes volumes de exsudato e, por isso, é fundamental avaliar e registrar sua quantidade, cor e localização. Quanto maior a quantidade de exsudato, maiores são as chances dele causar danos à pele perilesional.
A exposição prolongada da pele ao exsudato pode levar a danos cutâneos associados à umidade, como a maceração, caracterizada pela pele ao redor da ferida esbranquiçada e encharcada. Portanto, essa complicação pode favorecer o alargamento da ferida e consequentemente atrasar o processo de cicatrização.
Para evitar complicações como essa, é fundamental utilizar curativos adequados que promovam a absorção do exsudato sem comprometer a umidade ideal para a cicatrização, além de proteger a pele ao redor da lesão com soluções apropriadas.²
Tratamento da ferida cavitária
Considerando as possíveis complicações, o tratamento da ferida cavitária depende de uma avaliação criteriosa. Quando necessário, é indicado realizar o desbridamento para remover o tecido desvitalizado e favorecer a cicatrização.
Outro ponto a ser considerado é a importância de prevenir ou eliminar o “espaço morto” dentro da cavidade, uma vez que ele é considerado o grande responsável pelo aumento nos riscos de infecção da lesão, pois permite que as bactérias se acumulem. Nesse sentido, o curativo primário deve poder ser devidamente posicionado neste tipo de ferida, auxiliando no preenchimento da cavidade e estimulando o crescimento de tecido de granulação, além de ser capaz de absorver e reter um grande volume de exsudato.²
Os curativos de fibra gelificante, que se transformam em gel em contato com o exsudato, como é o caso do Exufiber, são ideais, pois se adaptam aos contornos da ferida, absorvem o excesso de exsudato e mantêm o meio úmido, promovendo o ambiente ideal para a cicatrização.² Além disso, é necessário, aplicar um curativo secundário com capacidade absorvente, que irá fixar o curativo primário de fibra gelificante, proteger o leito da ferida e minimizar os danos à pele perilesional durante as trocas.
Em casos de feridas infectadas, versões com prata, como o Exufiber Ag+, oferecem ação antimicrobiana para ajudar no controle da infecção. Além disso, a solução de limpeza Granudacyn pode ser utilizada para irrigação e descontaminação da ferida, promovendo um ambiente mais favorável para a cicatrização.
Por fim, é importante lembrar também da importância de observar o paciente como um todo e, quando aplicável, tratar a condição relacionada ao desenvolvimento da lesão.
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Referências:
- Best practices for the treatment of cavity wounds | Artigo Mölnlycke, sessão Our Knowledge¹. Disponível em: Best practices for the treatment of cavity wounds | Mölnlycke¹
- Addressing the challenges of cavity wounds in clinical practice | Wound Care Today, Joy Tickle, Tissue Viability Specialist. Disponível em: Wound Care Today – Article: Addressing the challenges of cavity wounds in clinical practice – Wound Care Today²
- Defining, assessing and managing cavity wounds | Review article Wounds UK Journal. Disponível em: content_11730.pdf³
- Local management of deep cavity wounds – current and emerging therapies | Chronic Wound Care Management and Research, DovePress. Disponível em: Full article: Local management of deep cavity wounds – current and emerging therapies⁴