O que você precisa saber sobre o exsudato?

exsudato

O exsudato é um componente natural da cicatrização de feridas, contudo, isso não significa que não seja necessário manejá-lo adequadamente e monitorar qualquer alteração em sua composição. Justamente por ser parte fundamental do processo de cura, essa substância precisa ser considerada durante o tratamento. Continue lendo para conhecer, de uma vez por todas, tudo o que você precisa saber sobre o exsudato: o que é, quais tipos existem e quais são os problemas relacionados ao seu excesso!

O que é exsudato?

De acordo com documento de consenso sobre exsudato, publicado em 2019 pela WUWHS (World Union Wound Healing Societies), o exsudato é definido como “matéria exsudada; especialmente o material composto de soro, fibrina e glóbulos brancos que escapa para uma lesão superficial ou área de inflamação.”¹

Essa matéria é produzida naturalmente no processo de cicatrização, especialmente durante a fase inflamatória, e possui um papel fundamental para a cicatrização, atuando na manutenção da umidade da lesão. Nesse sentido, é importante lembrar que existem estudos que comprovam que feridas úmidas cicatrizam 2 a 3 vezes mais rápido que feridas secas e que formam crostas.

Portanto, para feridas que estão avançando sem problemas através dos estágios de cicatrização, o exsudato desempenha um importante papel, auxiliando no processo de cura:

  • “Fornece um ambiente úmido;
  • Permite a difusão de mediadores imunológicos e fatores de crescimento através do leito da ferida;
  • Atua como um meio para a migração de células reparadoras de tecidos através do leito da ferida;
  • Fornece nutrientes essenciais para o metabolismo celular;
  • Promove a separação de tecidos mortos ou danificados (autólise).”¹

Contudo, apesar de ser parte normal da cicatrização, como citado, o exsudato pode causar problemas para a recuperação dos tecidos se estiver presente no lugar, composição ou quantidade errada, causando efeitos adversos e dificultando a cicatrização. 

Sendo assim, considerando a relação direta entre o exsudato e o processo de cura de uma ferida, é fundamental saber identificar o tipo de exsudato para, assim, entender se ele é prejudicial ou se o processo de cicatrização não está seguindo conforme o esperado.

Quais são os tipos de exsudato?

Os principais e mais comuns tipos de exsudato são:

Seroso:

De cor clara e consistência aquosa, esse exsudato é normal durante as fases inflamatória e proliferativa, mas seu aumento pode indicar infecção. Em excesso, também pode estar associado com doença venosa e outros problemas.

Serossanguinolento:

Avermelhado claro/rosado e de consistência aquosa, é normal durante as fases inflamatória e proliferativa, mas também pode ser encontrado no pós-operatório ou após a remoção traumática do curativo.

Sanguinolento:

Avermelhado e geralmente espesso, tem presença de glóbulos vermelhos e pode estar associado com hipergranulação ou, ainda, indicar o crescimento de novos vasos sanguíneos ou sua ruptura.

Purulento:

Pode ser amarelado, amarronzado ou esverdeado. Sua consistência é espessa e é formado principalmente por pus, pode também conter esfacelo/tecido necrótico liquefeito e indica infecção. Pode estar associado a odor.

Seropurulento:

Amarelado e fino, esse é o exsudato seroso que contém pus. Pode ocorrer devido à liquefação do tecido necrótico e indicar infecção iminente.

Hemopurulento:

Avermelhado e espesso, esse é o exsudato que é uma mistura entre sangue e pus. Muitas vezes está associado com uma infecção estabelecida.

Portanto, o exsudato nos dá diversas informações sobre a lesão e, considerando o tipo que está presente, é possível realizar deduções práticas sobre as necessidades da ferida e sobre o avanço do processo de cicatrização.

Quais são os problemas relacionados ao excesso do exsudato?

Apesar de toda sua utilidade, como citado anteriormente, o exsudato pode causar problemas a depender de suas condições, atrasando a cicatrização, afetando a qualidade de vida do paciente e causando um negativo impacto socioeconômico. 

Quando a quantidade de exsudato é insuficiente ou excessiva, sua composição é anormal ou se estiver presente no lugar errado, é necessário tomar medidas para evitar problemas clínicos e assegurar um ambiente ideal para que os estágios de cicatrização não sejam interrompidos. 

De forma geral, a produção excessiva ou insuficiente do exsudato pode estar relacionada com os seguintes fatores:

  • “Etiologia – alguns tipos de feridas são mais propensas a níveis de exsudato altos ou baixos;
  • Fase de cicatrização – a quantidade de exsudato produzido por uma ferida geralmente diminui à medida que a cicatrização progride.”¹ Entretanto, quando o exsudato está aumentado e descontrolado, poderá ser indicativo de que a ferida está estagnada na fase inflamatória, não progredindo para as demais fases da cicatrização podendo resultar na sua cronificação.
  • “Tamanho, profundidade e posição – feridas maiores e mais profundas podem produzir níveis mais altos de exsudato, assim como feridas em partes dependentes do corpo, como por exemplo, a parte inferior da perna;
  • Comorbidades, complicações e outros fatores – existem muitas outras razões para aumentar ou diminuir a produção de exsudato,”¹ como por exemplo, presença de infecção/biofilme, corpo estranho no leito da ferida, obesidade, desnutrição, idade, uso de curativos e/ou dispositivos inapropriados e outros problemas de saúde, como doença endócrina, doença linfática, insuficiência cardíaca, desnutrição, etc.

Quando falamos da produção excessiva de exsudato, os problemas vão desde a ocorrência de vazamentos até a dor relacionada a danos na pele perilesional.

Para pacientes e cuidadores, o desconforto relacionado ao exsudato mal manejado é extremamente angustiante. Além de aumentar a necessidade de trocas e lavagem de roupas e roupas de cama, o que onera tempo e recursos financeiros, também está relacionada com o aumento do odor da ferida, causando um grande impacto psicossocial relacionado ao medo e constrangimento que um possível vazamento e odor podem trazer para o paciente. Muitos acabam se isolando e tendo as esferas profissionais e sociais da sua vida duramente afetadas, causando a redução do bem-estar e qualidade de vida.

Além disso, o vazamento também está associado com o aumento do risco de infecção, pois ele oferece uma rota pela qual microrganismos podem entrar na ferida, dando início à colonização.

Uma ferida altamente exsudativa também está relacionada à dor, pois poderá ocorrer danos na pele perilesional – como maceração – e, também, sofrimento relacionado às trocas recorrentes de curativos, principalmente aqueles que não sejam capazes de manejar a quantidade de exsudato satisfatoriamente.

Vale lembrar que as trocas frequentes de curativos que não sejam capazes de manejar o exsudato adequadamente podem estar associadas com atrasos no processo de cicatrização, principalmente aqueles que não possuem uma camada de contato suave com ferida e que possivelmente levem à traumas e lesões no tecido neoformado durante a sua remoção.

Por último, mas não menos importante, o exsudato excessivo também pode colocar o paciente em risco de desequilíbrio hidroeletrolítico, visto que a exsudação pode causar uma grande perda de proteínas. Para um paciente com uma Lesão por Pressão de estágio 4, por exemplo, é possível perder até 100g de proteína por dia no exsudato, um número que pode ser maior do que a ingestão diária recomendada, a depender do estilo de vida do adulto.¹

Já quando falamos da produção insuficiente de exsudato, o principal problema é o ressecamento da ferida, causando danos na migração dos fatores de crescimento, bem como a dificuldade no desbridamento autolítico através da autólise, podendo impactar no processo de cicatrização. Além disso, assim como citado anteriormente, poderão ocorrer danos no leito da ferida e dor durante a remoção do curativo, especialmente em feridas com pouca umidade. 

Por fim, a composição anormal do exsudato pode estar relacionada com a presença excessiva ou insuficiente dos diversos componentes dessa substância, o que pode afetar o crescimento do tecido e da matriz extracelular no leito da ferida. Com isso, pode acontecer atraso na cicatrização, danos à pele e, até mesmo, expansão da ferida.

Considerando todos os impactos que o exsudato pode ter na cicatrização, fica claro que monitorar e manejar adequadamente esse fator deve ser uma das prioridades do tratamento de lesões para que se evite qualquer atraso na cicatrização. Afinal, feridas que perduram por muito tempo têm um enorme impacto econômico e social, prejudicando a saúde e qualidade de vida, portanto, eliminar qualquer fator que atrase a cicatrização é necessário

Ref.:

Documento de Consenso – Gerenciamento do Exsudato: World Union of Wound Healing Societies, 2019¹. Disponível em: ttps://www.sobenfee.org.br/_files/ugd/29b632_9ba1af9550b1450c922335a65ba7ba61.pdf?index=true

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