Dor, estresse e cicatrização de feridas: qual é a relação?

Você sabia que existe uma relação intrínseca entre a dor, o estresse e a cicatrização de feridas? Confira o texto para entender um pouco mais sobre os mecanismos da dor e como esses fatores estão associados.

O que é a dor?

De acordo com a Associação Internacional para o Estudo da Dor (International Association for the Study of Pain – IASP), a dor é “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial”. Já Margo McCaffery, enfermeira pioneira no campo da enfermagem de controle da dor, em uma definição menos técnica e mais voltada para as experiências pessoais de pacientes, afirmou que “a dor é o que a pessoa que a está experienciando diz que é, e ela existe sempre que essa pessoa diz que ela existe”. ¹

Dessa forma, é possível entender que a dor é um fenômeno biopsicossocial, geralmente associado ao estresse, que varia de acordo com a experiência pessoal do paciente.

Fisiopatologia da dor

De forma bastante resumida, podemos dizer que a dor pode ser neuropática ou nociceptiva.

Quando é neuropática, a causa mais comum é a neuropatia periférica, que surge em decorrência de diversos mecanismos fisiopatológicos complexos, incluindo disfunções ou danos de axônios sensoriais dos nervos periféricos ou centrais. ²

Quando é nociceptiva, está relacionada a danos ao tecido corporal. Quando o tecido é lesionado ou está inflamado, o corpo libera compostos químicos, como prostaglandinas, leucotrienos, histamina, bradicinina, acetilcolina e serotonina. ²

Esses compostos estimulam os chamados nociceptores, que são os neurônios sensoriais, presentes em todo o corpo humano, que enviam sinais que são responsáveis por causar a percepção da dor. Esse estímulo também desencadeia outros processos, como a ativação de fibras nervosas, o que pode causar inflamação neurogênica que produz vasodilatação e maior liberação de compostos químicos, aumentando a inflamação e, consequentemente, a sensibilidade à dor, caracterizando um processo que se repete, constantemente. ²

A dor e as feridas de difícil cicatrização

No que diz respeito aos cuidados com feridas, é bem conhecido que lesões podem ser bastante dolorosas. Além da própria ferida, os cuidados podem também causar dor. Processos como limpeza da ferida, desbridamento, remoção de curativos e escolha inadequada de coberturas podem contribuir com o aumento da percepção desse sofrimento físico. ³

Assim, nos últimos anos, tem crescido a conscientização sobre a importância de considerar a dor durante o tratamento de pacientes com feridas de difícil cicatrização, como úlceras vasculogênicas e úlceras nos pés de pessoas com diabetes. Apesar disso, na literatura, ainda existem poucos documentos que mapeiam a prevalência e o impacto da dor em pacientes com esse tipo de lesão. ²

Sobre esse assunto, também é relevante destacar que a dor não pode ser medida de forma precisa e está absolutamente relacionada com a sensibilidade do paciente. Nesse sentido, essa sensação também varia de acordo com diferenças culturais, experiências passadas, gênero e outros fatores. Além disso, a dificuldade em expressar a dor e seus níveis também pode levar a potenciais erros na avaliação e gestão da dor. ²

Portanto, abordar a dor é tão complexo quanto é necessário, sendo preciso adotar um modelo de cuidados integrado que leve em consideração todas essas particularidades.

O papel do estresse no tratamento de feridas

Em uma explicação simples, o estresse é uma consequência da inabilidade do corpo humano de responder, adequadamente, a ameaças, sejam elas de ordem física ou emocional. Dessa forma, o estresse também é subjetivo e causa repercussões diferentes, a depender das experiências pessoais do indivíduo. ³

Em vista disso, muitas vezes o estresse está associado com situações específicas. Por exemplo, se um paciente costuma experienciar muita dor durante as trocas de curativos, ele pode estar condicionado a sempre perceber esse evento como algo estressante e tentar adiar as trocas o máximo possível, prejudicando a cicatrização da ferida. ³

Além disso, o prolongamento do estresse causa impactos negativos na saúde mental e física. Isso porque o estresse aumenta os níveis de cortisol que, por sua vez, podem causar o aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, o que pode ser prejudicial para o sistema imunológico que, quando afetado, pode resultar no atraso da reparação da pele. ³

Impacto da dor na cicatrização de feridas

A persistência da dor causada por feridas traz inúmeros sentimentos negativos, como depressão, baixa autoestima e sensação de impotência. Esse estresse emocional diminui a tolerância à dor e afeta o sistema imunológico. ³

Apesar de bastante complexa, a relação entre o estresse e a dor é inegável e deve ser levada em consideração para que seja possível diminuir o máximo possível o sofrimento do paciente e evitar atrasos na cicatrização. ³

Em vista disso, o uso de curativos desenvolvidos especialmente para minimizar a dor e o trauma tem se provado extremamente eficiente, contribuindo com a diminuição do sofrimento do paciente e ajudando a reduzir o estresse durante as trocas de curativos, duas ações fundamentais para uma cicatrização mais natural e sem atrasos. ³

Assim, considerando todas as informações expostas nesse artigo, a relação existente entre a dor, estresse e cicatrização de feridas é inegável, embora esse aspecto seja muitas vezes negligenciado durante o tratamento de feridas, mesmo representando um impacto negativo na cicatrização. ¹

Avaliar adequadamente a dor faz parte de um tratamento de qualidade e, nesse sentido, é fundamental entender que a dor do paciente é aquela percebida por ele, e não o que os profissionais de saúde imaginam que seja. ¹

Ref.:
  • Bechert K, Abraham SE. Pain management and wound care. J Am Col Certif Wound Spec. 2009 May 23;1(2):65-71. doi: 10.1016/j.jcws.2008.12.001. PMID: 24527116; PMCID: PMC3478916.¹
  • Serena T, Yaakov R, Aslam S, Aslam R. Preventing, minimizing, and managing pain in patients with chronic wounds: challenges and solutions. Chronic Wound Care Management and Research. 2016;3:85-90.²
  • Upton D & Solowiej K. Pain and stress as contributors to delayed wound healing. 2010 August. Volume 18 Number 3.³

Nos siga nas redes sociais: Instagram, LinkedIn e Facebook